quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Preparativos

Kit anti-malária

Esses dias recebi o kit acima, que vem com dois repelentes "extremos" (um pra roupa e uma pra pele), um protetor solar fator 58, alguns saquinhos de alcóol para esterilização, um mosquiteiro e uma silver tape (pra prender o mosquiteiro no teto). Malária é um problema sério na faixa do Sael (onde está inserida parte da Guiné), e toda precaução é pouca. É uma doença que não tem vacina, e é transmitida por um mosquito vetor que está espalhado por praticamente toda a África subsaariana. A melhor maneira de prevenir a doença é evitar o maldito mosquito, usando muito repelente e sempre dormindo com o mosquiteiro. Vide mapa do cordão do malária abaixo:



Outro detalhe importante foi resolvido hoje: o visto. Demorou cerca de 24h para conseguí-lo. Bastou mandar uma cópia do meu passaporte por e-mail, e em 1 dia voltou um papel assinado pelo Polícia Nacional da Guiné com o visto...também por e-mail:

Visto "expresso", depois dizem que as coisas na África são lentas

Já me alertaram que o carimbo do visto ao chegar na Guiné tem um procedimento um pouco heterodoxo: no aeroporto você deixa o passaporte com uma pessoa e vai pro hotel... algumas horas depois essa pessoa aparece com o seu passaporte milagrosamente carimbado com o visto. Vai ser interessante ficar algumas horas na Guiné sem documentação e sem saber se vai ver algum dia meu passaporte de volta, especialmente em um país onde o Brasil não tem embaixada ou consulado.

De um jeito ou de outro, minha ida à Guiné deve ocorrer no dia 08 de janeiro 2011, a confirmar. Só falta arrumar a mala e decolar!

sábado, 18 de dezembro de 2010

A história da África completa

Acaba de ser publicado em português os oito volumes da obra mais completa já escrita sobre a história africana. Este é um trabalho que vem sendo feito pela ONU (UNESCO) há um tempo e possui a intenção de reescrever com mais acuracidade toda a história da África. Este mesmo trabalho está sendo feito em todos os continentes, e o propósito é tentar mostrar o nosso passado sem a parcialidade do "conquistador".

É um trabalho gigantesco e lento, mas que promete abrir os olhos do mundo para uma nova maneira de enxergar a história que nos foi ensinada nas salas de aula.

O trabalho sobre o continente africano está finalizado, são 8 volumes de mais ou menos mil páginas cada, escrita por 350 especialistas de diferentes áreas ao redor do mundo. É um trabalho minucioso e rico, que vale a pena ter na prateleira pra ir lendo ao longo do tempo. 

O melhor é que tudo isso pode ser baixado gratuitamente (e legalmente) pela internet, nos links abaixo:



Volume II: África Antiga (PDF, 11.5 Mb)

Volume III: África do século VII ao XI (PDF, 9.6 Mb)

Volume IV: África do século XII ao XVI (PDF, 9.3 Mb)

Volume V: África do século XVI ao XVIII (PDF, 18.2 Mb) 

Volume VI: África do século XIX à década de 1880 (PDF, 10.3 Mb)

Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 (9.6 Mb)

Volume VIII: África desde 1935 (9.9 Mb)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Festival das Artes Negras 2010 - Senegal


Este mês está acontecendo em Dakar, no Senegal, a 3ª edição do Festival Mundial das Artes Negras. Este não é “mais um festival” de arte africana, é um mega evento de 22 dias que põe em evidência toda a riqueza da arte negra na África e no mundo. 

Este evento sempre ocorreu em épocas determinantes da história do continente, primeiro em 1966, década em que a maioria dos países consolidou sua independência às metrópoles européias, principalmente Paris, Londres e Lisboa. Sua segunda versão aconteceu em 1977, época em que a África se degladiava com ela mesma pela estabilidade política e econômica nos anos pós-independência. A década de 70 foi marcada por ditadores sanguinários, comunismo africano, muitas guerras civis e muito caos.

Agora, em 2010, a África parece passar por mais uma transformação. O mundo está redescobrindo o continente, desta vez de maneira menos presunçosa e dominadora. Vários países estão de olho nas riquezas naturais, no mercado consumidor potencial e todo o lado a ser descoberto da África. Nessa era de mudança de eixo econômico, China, Brasil, Índia, Rússia, EUA e Europa estão todos de “olho gordo” no continente e todo seu potencial inexplorado.
 
A África está cada vez mais estável politicamente, há cada vez mais democracias e o continente apresenta vários dos países com maior crescimento econômico do mundo. Ainda há infinitos problemas a serem resolvidos, mas tudo indica que estão no caminho certo.  

Este festival é um evento de grandes proporções e tem o Brasil como convidado de honra. Temos a segunda maior população negra do mundo, perdendo apenas para a Nigéria. Nada mais justo que participarmos do Festival Mundial das Artes Negras. A diáspora africana para o Brasil nos tempos dos navios negreiros nos deixou como herança, entre outras coisas, uma eterna ligação íntima com o continente negro. Há várias apresentações brasileiras de todas artes programadas para o festival.

Abaixo um filme de apresentação sobre o festival que está acontecendo em Dakar (legendado pela minha esforçada pessoa...) 


Pra quem se interessar neste evento que mexe com a África, acessar o link oficial:

domingo, 12 de dezembro de 2010

Fronteiras reabertas na Guiné

Depois de 14 dias, o governo da Guiné retirou o status de estado de urgência do país. Isso quer dizer que as fonteiras estão reabertas, que não há mais toque de recolher e etc. As reações ao resultado defintivo das eleições foram diminutas, uma boa supresa, ou seja, não foi necessária nenhuma medida excepcional para conter nenhum ânimo.

Conacry - acesso liberado

Isso quer dizer também que não há mais nenhum fator impeditivo ou preocupante para ir à Guiné...

Assino o contrato daqui há 2 dias... A chegada à Conacry ainda não tem data certa, mas não há de demorar....

sábado, 11 de dezembro de 2010

Revelações do Wikileaks sobre a Guiné


O jornal Le Monde publicou um documento vazado pelo site Wikileaks sobre o esforço dos franceses e americanos para substituir o então presidente Moussa Dadis Camara. Logo após ele ter comandado o massacre do estádio do 28 de setembro de 2009, quando fuzilou 150 opositores, as embaixadas dos EUA e da França se juntaram para tirá-lo do poder. 

 Moussa Dadis Camara - ditador que massacrou 150 opositores em 2009

Em 3 de dezembro de 2009 esse mesmo presidente sofreu uma tentativa de assassinato e foi levado ao Marrocos para tratamentos. A embaixada americana viu a ocasião como uma janela de oportunidade e juntamente com a França, correu atrás de países que pudessem oferecer asilo político à Camara. Vários países rejeitaram a proposta, até que Burkina Fasso aceitou. 

No retorno para a Guiné, Moussa Camara entrou no avião, juntamente com seus assessores, em direção à Conakry. Mal sabia ele que americanos e franceses tinham planejado um desvio de rota para o país vizinho.  O presidente foi entender que não tinha chegado a seu país depois que o avião já tinha pousado. Desde então ele ainda não voltou pra Guiné, continua em asilo político em Ouagadougou, capital da Burkina Fasso. Um outro general chamado Sékouba Konaté foi colocado em seu lugar. Um ano depois as eleições democráticas foram organizadas com resultado amplamente aceito. 

Moussa Dadis Camara não é mesmo flor que se cheire, mas o que fica evidente nas revelações do Wikileaks é a atitude patriarcal e menosprezável da França e dos EUA em relação à Guiné e aos países da África. Já não é novidade pra ninguém que as potências mundiais adoram “meter a colher” nos países mais pobres, com desprezo claro em relação à capacidade dos mesmos de resolverem seus próprios problemas. Sem falar que EUA e França, nesta e em outras revelações, demonstraram uma perigosa e questionável certeza que polariza o mundo em dois lados: os certos (EUA e Cia) e os errados (todos os outros “incivilizados”). 

A gravidade da interferência americana e francesa nesse caso fica diminuída pelo fato do presidente Camara ser mal-quisto por todos, mas deixa uma pulga atrás da orelha quanto aos outros países e os outros presidentes. As “boas” intenções podem mesmo justificar a interferência de um país na política de outro?    

sábado, 4 de dezembro de 2010

Costa do Marfim: o presidente com o mandato mais curto do mundo


Outtara, o presidente eleito quinta-feira e Gbagbo, o presidente atual reeleito na sexta-feira


Depois de ter simplesmente anulado o resultado oficial das eleições presidenciais na Costa do Marfim, o atual presidente e candidato à reeleição Gbagbo apresentou, um dia após esse cancelamento, um novo resultado que o faz vencedor. O primeiro resultado oficial ele perdia de 54% a 46%, mas com esse novo resultado no dia seguinte ele leva 51%. Altamente suspeito.

O clima está super tenso no país e a comunidade internacional está extremamente preocupada. A Costa do Marfim tem violência e conturbações políticas sérias desde 2000, quando o atual presidente foi eleito. Nessa década houve golpes de estado, rebeldes que dividiram o país em dois, tropas da ONU com soldados franceses (que estavam lá pra ajudar, mas acabaram sendo atacados pelo próprio governo, o que os fez revidar e sair do país), massacres por parte do governo, valas comuns com centenas de corpos encontrados, estado de exceção, e otras cositas más que se possa imaginar no quesito caos. 

Ambos os candidatos vencedores, um na quinta-feira (Ouattara) e o outro da sexta-feira (Gbagbo, atual presidente) fizeram juramentos de posse e todas as pompas de um presidente eleito. O detalhe é que no momento há dois presidentes e um só país, recheado de muitas suspeitas a respeito do 2º resultado e salpicado com uma história de violência recente. Uma perfeita receita de bolo chamado guerra civil.  
Ainda não há quem se ofereceu a articular uma saída pro impasse, o país está em estado de exceção, com fronteiras fechadas, toque de recolher e censura à mídia internacional. 

A Costa do Marfim é uma das principais economias da região e sua capital Abidjan é uma das mais modernas e cosmopolitas da África. É surreal ver isso acontecendo. 

Vamos ver onde essa novela vai dar...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Democracia = confusão

Ontem saiu o resultado da Corte Suprema da Guiné, que confirmou o resultado provisório das eleições presidenciais. O novo presidente será Alpha Condé, eleito democraticamente depois de 52 anos de ditaduras.

Agora é defintivo, esse cara aí é o novo presidente da Guiné


Nos últimos dias várias pessoas, principalmente mulheres e crianças fugiram da capital Conakry para o interior com medo de uma onda de violência após o resultado definitivo revelado pela Corte Suprema. Entretanto, desde os resultados definitivos de ontem, não houve sinais de problemas já que o país está sob estado de emergência, o que significa entre outras coisas toque de recolher à noite.  As fronteiras marítimas e terrestres ainda estão fechadas, mas todas essas medidas devem ser retiradas progressivamente nos próximos dias ou semanas até que a poeira abaixe.

Enquanto a Guiné volta ao normal aos poucos (depois de meio século), o país vizinho Costa do Marfim começa sua própria confusão. Lá também estão elegendo seu presidente, e o resultado do segundo turno foi divulgado ontem, dando 54% ao candidato Ouattara, vencendo então seu concorrente Gbagbo. Entretanto o resultado está sendo contestado com o pretexto de que a Comissão Eleitoral atrasou em um dia a divulgação dos números, o que burocraticamente invalidaria o papel da comissão. Oito pessoas já morreram esta semana por conflitos entre partidários dos dois candidatos. O Conselho Constitucional acaba de confirmar a invalidade do resultado divulgado e também mandou fechar todas as fronteiras e cortou todos os canais de rádio e televisão internacionais. O clima é tenso e ninguém sabe o que vai acontecer nos próximos dias.

AFP PHOTO/ SIA KAMBOU
Agitação em Abidjan, capital da Costa do Marfim

 Assim como aconteceu na Guiné e está acontecendo na Costa do Marfim agora, na África os resultados de eleições nunca são aceitos sem alguma confusão e alguma violência, via de regra.

Mais notícias fresquinhas vão sair ao longo da semana...
   

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Você tem medo de agulhas?

Foto das vacinas de hoje

Mais 8 vacinas tomadas hoje.. tô igual um queijo suíço. Ainda faltam 7 doses. O total será exatamente 20.
Mas o que doeu mesmo foi o preço do pacote: quase R$ 800, que serão reembolsados... ufa!

Relação das picadas até agora:
  1. Difteria e Tétano (3 doses): falta 1 dose
  2. Rubéola, Caxumba e Sarampo (tríplice viral): falta 1 dose
  3. Hepatite A: faltam 2 doses
  4. Hepatite B:falta 1 dose
  5. Febre Amarela: OK
  6. Febre Tifóide: OK
  7. Meningite A e C: OK
  8. Poliomielite: OK
  9. Gripe Sazonal: OK
  10. Profilaxia da Raiva: à tomar
  11. Cólera: falta 1 dose
  12. Varicela: OK
Recado pra quem tem fobia de agulhas: não vá à África.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fronteiras fechadas na Guiné



O governo de transição da Guiné, presidido pelo General Konaté, decretou o fechamento de todas as fronteiras terrestres, marítimas e fluviais do país. Os vôos estão permitidos pois essa é a época que os peregrinos que foram à Meca estão de retorno pra casa. Cerca de 6 mil guineenses foram à Arábia Saudita esse ano para a peregrinação, e agora começam a voltar. 

O governo não deu a menor explicação sobre o porquê do fechamento das fronteiras, simplesmente anunciaram na rádio nacional e pronto, estava decidido. Acredita-se que a medida extra-ordinária deve durar somente até quinta-feira, dia 02/12/10, quando o resultado defintivo das eleições serão divulgados, condizendo com o já declarado estado de emergência que está em vigor desde quinta-feira passada.
Espero que até janeiro já seja "legal" entrar na Guiné... 

E principalmente que continue sendo "legal"  sair de lá...



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Europa faz mal à saúde


Hoje na África grande parte da prevenção e tratamento de doenças é feita por ONGs humanitárias internacionais como Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha, Médicos do Mundo entre muitas outras. A falta de planejamento, corrupção e pobreza de muitos países africanos fazem com que seus respectivos governos dependam dessas organizações para cuidarem de sua população. Muitas vezes essas ONGs são a única assistência à saúde disponíveis. A maioria dessas organizações sobrevive através de doações ao redor do mundo e, por este motivo, levam muito a sério a maneira como gastam seu dinheiro. A distribuição gratuita de remédios é grande parte dos gastos, portanto a busca por medicamentos mais baratos é fundamental.

Hoje em dia é na Índia onde são produzidos os genéricos mais baratos e eficazes do mundo. O preço de um medicamento genérico pode chegar a impressionantes 1% do valor de mercado. Em geral, se tem no mínimo uns 70% de diferença. Visto isso, dá pra compreender os benefícios de se ter o genérico para essas organizações e seus orçamentos. Essa notícia seria ótima, se não fossem pelos portos europeus.

Os medicamentos que partem da Índia para a África passam por portos e aeroportos europeus, e eles vêm sendo apreendidos por não respeitarem as leis de patente da União Européia (detalhe: os medicamentos só estão passando pela Europa, seu destino final é a África). Esta burocracia absurda resulta na interrupção do tratamento de diversas doenças graves na África. Só no caso do HIV, há cerca de 160.000 pessoas no continente que dependem exclusivamente desses remédios. Patentes são um assunto polêmico e não me atrevo a argumentar mais sem antes estudar sobre a questão a fundo. Mas de uma coisa estou certo, há algo muito errado em deixar uma burocracia portuária da União Européia matar milhares de pessoas paupérrimas e doentes no continente mais necessitado do mundo. Como se a Europa já não tivesse prejudicado o suficiente a África ao longo dos últimos séculos...

Hoje o Comissário da União européia está tentando junto ao governo Indiano interromper a fabricação de genéricos por um período de 10 anos, quando venceriam as patentes. Uma década me parece tempo demais de espera pra quem está precisando sobreviver.

Pra quem se interessar no assunto e quiser assinar embaixo (eletronicamente) uma carta-protesto elaborada pela ONG Médicos Sem Fronteiras e enviá-la ao Comissário da U.E. , acesse o link: https://action.msf.org/pt_BR/action/index/

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Política vs. Investimentos

Une patrouille de l'armée guinéenne dans une banlieue proche de la capitale Conakry, le 18 novembre 2010.
O exército patrulha as ruas de Conakry
Foto da Reuters - Joe Penney


A Guiné está em estado de emergência desde 5ª feira passada para ver se consegue controlar os diversos protestos violentos que ocorreram no país logo após o resultado da eleição presidencial. Este é um padrão africano, geralmente depois de resultados de eleições “a cobra fuma”.

Mas aparentemente a calma está imperando no país desde então. Algumas ONGs estão denunciando abuso da Força Especial de Segurança do Processo Eleitoral (FOSSEPEL). Dizem que invadem casas, quebram as mobílias e estupram as mulheres. Cerca de 10 pessoas morreram desde o resultado das eleições. Algumas foram mortas por rivalidades políticas e outras pela FOSSEPEL. O “método” parece ter surtido efeito e os manifestantes estão agora em casa.

A Corte Suprema da Guiné vai decidir até dia 02 de dezembro o veredito final das eleições. Apesar de o resultado oficial ter dado 52% dos votos a Alpha Condé, seu rival Celloun Diallo entrou com recurso de fraude e outras acusações. O primeiro colocado também entrou com diversos recursos na Corte Suprema contra seu rival perdedor. Todos os processos devem ser julgados em no máximo 10 dias, quando o resultado verdadeiramente definitivo deve ser anunciado. Não dá pra saber se vai haver mudança do resultado já anunciado, mas se houver há boas possibilidades de mais protestos e violência.

Enquanto isso eu fico aqui no Brasil esperando essa turma se resolver pra poder embarcar. Instabilidade política é de fato um grande espantalho para investidores e empresas de fora. Enquanto não se entendem, os investimentos no país ficam parados, esperando...

O projeto do qual vou participar ficou 20 anos nas mãos da Rio Tinto, que por dificuldades políticas não conseguiu desenvolvê-lo. Nesses 20 anos passaram ditadores e militares, nada amistosos com investidores internacionais.

Uma vez resolvida toda essa questão eleitoral e com relativa tranqüilidade reinando, a Vale deve entrar com tudo pra não dar tempo de ter outra recaída política no país e o projeto ficar parado por mais 20 anos.

O projeto engloba a construção de duas vias férreas, um aeroporto, um porto (na Libéria), uma hidroelétrica entre outros. Fora a mina propriamente dita. É um mega projeto sobre o qual ainda sei poucos detalhes. De toda forma sei que o país com o 13º pior IDH do mundo (de 169 países) deve estar desesperado por investimentos de todos os tipos. E a Vale só vai mandar os expatriados uma vez que houver estabilidade política. Se não, nada de aeroporto, mina, hidroelétrica, linha férrea...

Fico pensando no Brasil e da quantidade de investimentos estrangeiros que entraram desde o fim da ditadura. O país saiu do marasmo e da miséria para o status de potência econômica e líder das nações emergentes em pouco mais de 20 anos. Talvez na Guiné eu observe algo em comum com o Brasil de alguns anos atrás, a abertura política, sua transformação e crescimento lentos... embora eu acredite que vá demorar mais tempo do que 2 ou 3 anos (o tempo que devo ficar por lá) pra sentir alguma mudança paupável. Apesar de que para um país onde falta praticamente todos os tipos de infraestrutra, uma pequena diferença pode surtir um grande efeito.

É ver pra crer.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Das vacinas...



Checklist de vacinas a serem tomadas antes de partir:

  1. Difteria e Tétano (3 doses): OK
  2. Rubéola, Caxumba e Sarampo (tríplice viral): OK
  3. Hepatite A: à tomar
  4. Hepatite B: OK
  5. Febre Amarela: OK
  6. Febre Tifóide: à tomar
  7. Meningite A e C: à tomar
  8. Poliomielite: OK
  9. Gripe Sazonal: à tomar
  10. Profilaxia da Raiva: à tomar
  11. Cólera: à tomar
  12. Varicela: à tomar
Por enquanto só tomei 5 porque literalmente a enfermeira não tinha mais onde me furar. Semana que vem eu tomo mais uma 5! (ai!)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Lune de Gorée

Canção linda baiana-senegalense sobre o porto de Gorée, no Sénegal. Deste porto partiram milhões de escravos em direção às Américas. Neste concerto em plena sede da ONU em Nova York, Gilberto Gil (co-autor da canção) tenta comunicar com o mundo através da música, lindo gesto.

(contribuição do amigo Fiu)

Um gostinho de Àfrica francofônica....

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Resultado das eleições na Guiné

Presidente eleito ontem - Alpha Condé - 1o. presidente democraticamente eleito na história da Guiné

Video da France24 sobre o resultado da eleição de ontem (o vídeo está em Francês, mas quem não entender vai pelo menos pegar o espírito da coisa)


Ontem saiu o resultado do 2º turno da eleição presidencial na Guiné: Vitória de Alpha Condé. 

Tendo que no 1º turno ele obteve apenas 18% dos votos, os 52% que obteve agora no 2º turno significa uma verdadeira reviravolta. Seu adversário Celloun Diallo obteve 52% no 1º turno teve 47% agora. Ainda há tensão nas regiões de “curral eleitoral”  de Celloun Diallo, as pessoas estão com medo de sair de casa, e houve casos de violência ao redor do país. A tensão se dá principalmente pela volátil combinação partido político e grupo étnico. O candidato perdedor, Diallo, é da etnia Peuls que corresponde a cerca de 30% da população e são a maioria da elite. Já Alpha Condé é da etnia Malinké (leia-se malanquê), que representa cerca de 23 % da população. A 3ª maior etnia é a Soussou que representa 10%. O restante é composto por uma série de etnias de menor representação. 

Etnia é assunto sério na África e já foi combustível pra muitos massacres e guerras recentes, vide Rwanda em 1994, Darfour no Sudão em 2009 (até hoje) e Norte Kivu na República Democrática do Congo hoje em dia ,entre outros. 

O discurso do novo presidente Alpha Condé é o de “governar para todos”, independente de etnias. Lendo sobre o seu passado não é difícil de acreditar no que diz. Foi exilado por mais de 20 anos em 5 diferentes países, foi líder comunista negro na França, foi condenado à morte por Sékou Touré e lutou sempre contra as ditaduras guineenses ao longo dos últimos 40 anos. Tem 72 anos de idade e uma biografia admirável de uma pessoa que conseguiu, depois de muitos anos de luta pró-democracia, chegar ao cargo máximo de seu país, quando muitos desistiram no meio do caminho. Vou procurar sua biografia pra comprar, caso haja um livro publicado, deve ser muito interessante. Por essas razões o mundo está vendo com bons olhos a sua eleição. Ele é muito respeitado na Guiné e fora dela. 

Acontece que ainda há muita tensão no ar e, por mais bem intencionado que seja o novo presidente, muitas pessoas da etnia Peul não aceitaram a vitória surpreendente de seu adversário, alegando fraudes e irregularidades. 

A estabilidade do país vai depender muito de como as reações vão se desenrolar nos próximos dias . De toda forma a Guiné entra numa nova fase depois desse dia histórico, o dia em que foi democraticamente eleito seu presidente, pela pirmeira vez.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Introdução à Conakry

Península de Kaloum



 Foto aérea de Conakry


Conakry (em portugûes Conacri) é a capital da Guiné e possui uma população de aproximadamente 2 milhões de habitantes. A cidade fica em uma península estreita no oceano Atlântico. Possui um aeroporto internacional e o principal porto do país. Há um estádio de futebol principal chamado "28 de setembro", o mesmo do massacre. Também há uma das maiores mesquitas da África que foi doada pela Arábia Saudita (90% da população da Guiné é muçulmana).

Também há o Palais des Nations que foi construído em 1978 junto com mais 50 casas de luxo para receber a conferência da Organização da Unidade Africana (OUA). A morte do presidente Sékou Touré em 1984 fez com que a conferência fosse anulada, sendo que USD 62 milhões tenham sido jogados no lixo. Este mega palácio foi destruído em 1996 por militares dissidentes, permancendo em ruínas até hoje. As 50 mansões construídas são hoje usadas por membros do governo e orhganizações internacionais. Creio que deve ser uma das grandes atrações ao meu ver. 

Perto dali existe a île de Los, um complexo de ilhas que possui praias bonitas e uma infraestrutura de hotéis. Parece ser um lugar ideal pra relaxar um pouco depois de uma semana de estresse. 

Há em Conakry vários mercados populares famosos por seus artesanatos, tecidos, instrumentos musicais e trombadinhas. 

Pelo que andei pesquisando existe até mesmo um bar de jazz que toca o estilo musical de quarta à domingo, esse eu vou ter que conferir. 

Também há uma escola de acrobacias famosa no mundo todo, que recruta os meninos de rua e ensina diariamente artes acobráticas e de circo, geralmente ao ar livre, na praia. Para quem gosta de fotografar , como eu, deve ser um prato cheio. Essa escola também dá aula pra quem se interessar... quem sabe eu não pego umas aulinhas? :-P

Claro que ao chegar lá tudo vai ser bem diferente do que os guias de viagem e o Goolge me mostram, mas já tenho uma noção razoável do que esperar. 

É uma cidade paupérrima mas segura, segundo os guias. Das cidades grandes africanas é uma das mais pacíficas. Os relatos de problemas estão geralmente relacionados ao soldados do exército e seus subornos aleatórios e intimidantes do que com roubos, assaltos, trombadinhas e etc... Ou seja, melhor ficar atento ao ver um guarda, principalmente à noite nos "checkpoints", quando estão bêbados. Bom deixar sempre um dinheiro reservado para o "cafézinho" dos soldados.

Tudo isso são especulações, ainda não cheguei lá. Não sei ainda em que bairro vou morar, nem onde fica a sede da empresa. Só sei mesmo que vou em janeiro 2011 e que vou morar em Conakry e não no interior.

Em breve eu começo a arrumar a mala...

domingo, 14 de novembro de 2010

Contextualização da Guiné


Localizada bem na ponta da África, a Guiné fica a 4h de vôo de Natal e a 6h de vôo de Paris.


A bandeira tricolor da Guiné. Vermelho para o sangue derramado pelo seu povo na luta pela liberdade, o amarelo pela riqueza dos seus recursos naturais e o verde pela abundante vegetação.


Existem 4 países no mundo que usam a palvra "Guiné"  no seu nome: Guiné, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial e Papua Nova Guiné. O país sobre o qual eu me reporto no blog é simplesmete Guiné, alguns chamam de Guiné-Conakry já pra tirar qualquer confusão. 

Falando a grosso modo, a Guiné foi colônia francesa até 1958, quando adquiriu a independência através de um referendo popular organizado pela metrópole. A Guiné foi na época o único país de todas as colônias francesas a optar pela independência. O que não agradou ao General De Gaulle, que governava a França na ocasião. Em pouquíssimo tempo todo o corpo administrativo francês, seus dirigentes, instituições e etc foram retiradas da Guiné, deixando pra trás um país completamente "sem dono".

Em 1958 sobe ao poder então um guineense chamado Sékou Touré, que vai se tornar um paranóico e implantar uma ditadura "das bravas" até o ano de 1984. Seu governo se aliava discretamente à URSS durante a guerra fria, apesar de receber também ajuda americana.
Com sua morte em 1984, entra no poder Lansana Conté, que também implementa um regime repressor e violento. Apesar das eleições existirem no período em que ficou no poder, de 1984 a 2008, elas foram muito pouco transparentes e representativas. 

Em 2008 ele morre e entra um governo militar de "transição", liderado por Moussa Dadis Camara. Este governo promete organizar eleições inicialmente, mas o poder sobe à cabeça de Camara, e em 2009 anuncia que será candidato às elições presidenciais, o que levanta suspeitas entre os guineenses e o mundo todo sobre a legitimidade das eleições à vir. Então em 2009, na comemoração da independência do país, 28 de setembro, manifestantes organizam um "showmício"  no principal estádio de Cronakry. O exército, que fazia a segurança do evento, fecha os portões do estádio, metralha mais de 130 pessoas e estupra mais de 300 mulheres (algumas por dias) como forma de repressão. Este evento ficou conhecido como o " Massacre do Estádio de 28 de Setembro". Pasmem, isso foi em setembro de 2009, outro dia, não um evento de outras eras longíquas mais brutais. Desde esse evento deplorável Camara perdeu sua legitimidade no poder e foi esfaqueado pelo seu principal acessor. Gravemente ferido teve de ser substituído por um outro general, chamado Sékouba Konaté em dezembro de 2009.

Konaté conseguiu de fato organizar as primeiras eleições democráticas da Guiné desde sua independência em 1958, sem que nenhum militar se candidatasse. É a primeiraa eleição transparente e reconhecida internacionalmente pela sua seriedade. O segundo turno aconteceu há uma semana (dia 07/11/10), onde sobraram na disputa Alpha Condé e Celloun Diallo. O resultado ainda não saiu, pois ambos os candidatos entraram com pedidos de fraude um contra o outro, e o resultado só vai sair depois desse impasse.É história acontecendo diante dos olhos...

Saindo da política um pouco, a Guiné é também conhecida por "caixa d´água da África" por conter 3 nascentes de grandes rios africanos: Niger, Gambie e Senegal. Seus recursos naturais são dos mais abundantes do continente, o que entretanto ainda não trouxe benefícios para o país. A Guiné possui uma forte cena musical, patrocinada pelo passado comunista que acreditava na identificação nacional através da música. Este legado permanece forte e tenho certeza que vou descobrir novos "barulhos" por lá.
A Guiné foi classificada em 156o. lugar no ranking do IDH 2010, sendo que há 169 países na lista. É um país pobre, muito pobre. 

Bom, esta foi uma "breve"  contextualiação do país para melhor compreender do que vai se passar no dia-a-dia nos causos a serem contados aqui.



Sobre o Blog


Apartir de janeiro 2011 vou me mudar pra Conakry, capital da Guiné, onde vou trabalhar por uns 2 ou 3 anos em um projeto de infraestrutura e mineração (projeto que envolve dois países: Guiné e Libéria).
Como um bom seguidor de blogs de expatriados ao redor do mundo, resolvi também fazer o meu, com o objetivo de descrever vivências cotidianas neste país (e outros) do continente africano. 

A África é um continente que me atrai por razões diversas, algumas explicáveis outras nem tanto. Creio que o que mais me envolve é o fato de ser um lugar onde a história está acontecendo diante dos nossos olhos, hoje, agora. São golpes de estado, ditaduras, fome, guerras e etc. Sem esquecer dos acontecimentos positivos, como eleições democráticas pela primeira vez em décadas (tal o caso da Guiné), desenvolvimento econômico acelerado, cenário cultural rico entre outros. Tudo isso com mínima cobertura da imprensa brasileira, que inexplicavelmente negligencia um continente tão rico de histórias fantásticas. O Brasil é o país com a maior diáspora negra de todos os tempos e ainda assim se comporta como se não tivesse "nada a ver com a África".

Pois agora vou ver de perto e espero trazer pra quem se interessar algumas informações e causos interessantes sobre essa experiência.