terça-feira, 30 de agosto de 2011

Um dia estranho na Guiné






Acordo às 7 da manhã do dia 19 de julho com meu celular tocando. É um colega de tarbalho guineense:
“Fábio, estou ligando pra avsisar que não vamos trabalhar hoje. Há militares pra todo lado, aparentemente tentaram matar o presidente...”

Passou-se uns 5 minutos até que o susto dessa ligação combinado com o estado de semi-cosnciência cessassem um pouco para que eu de fato voltasse a realidade. Comecei a ligar pra todos que moram no mesmo prédio que eu e pra turma que trabalha comigo, recolhendo e repassando informações.

A informação recebida no meu telefonema se confirmava. Ninguém foi trabalhar. Estávamos todos reunidos no mesmo apartamento reunindo informações por telefone, rádio e internet. Fato: entre 2 e 5h da manhã 6 veículos do exército cheios de soldados tentaram invadir a residência pessoal do presidente, usando metralhadoras e lança-foguetes. Não conseguiram cumprir o objetivo, mas deixaram um belo estrago na casa, carros explidodos, muros destruídos, e um soldado morto.


Estrago na casa do presidente Alpha Condé causado por um lança-foguetes


Às 11h da manhã uma segunda tentativa de assassinato. No meio da confusão dos soldados que protegiam o presidente, um deles tenta atirar no mesmo, sendo preso em seguida.

O clima ficou tenso, a rua cheia de militares. Muita especulação. O presidente vai finalmente ao rádio e anuncia que está bem e vivo.

No dia seguinte fomos ao trababalho, mas não sem notar a imensa presença de militares nas ruas e um engarrafamento recorde.

Desde então, os chefes da tentativa de assassinato (alguns generais do exército, inclusive um ex-cehfe do Estado Maior) foram presos e os militares ainda não deixaram de marcar presença nas ruas. Principalmente à noite ainda há muitas blitz/checkpoints, onde pedem documentação do veículo, passaporte e às vezes um trocado.

É incrível como que por aqui uma ação desse tipo ainda é cogitada como maneira autêntica de tomada de poder. Sabendo um pouco mais da história da Guiné, não é dificil entender porquê. Desde sua independência da França em 1958, a Guiné sofreu uma série de golpes de estado, e quase todos, de uma forma de outro, funcionaram como forma legítima de troca de poder.

Um fato como esse é um tapa na cara pra relembrar onde estamos. Depois de alguns meses morando aqui, acabamos por negligenciar um pouco o contexto político do país. Nada como uma tentativa de golpe para nos refrescar a memória.



http://www.rfi.fr/afrique/20110803-guinee-debut-instruction-attaque-residence-alpha-conde

terça-feira, 12 de abril de 2011

Îles de Los

A rotina de vida de Conakry é bastante sufocante, de diversas formas e por várias razões diferentes. Primeiramente o trabalho. Há sempre muita coisa a ser feita, então nunca volto pra casa às 18h00 ou 19h00, como a maioria das pessoas normalmente fazem. O expediente aqui não tem hora pra acabar. Do meu apartamento dá pra ver o pôr do sol, cena que só pude presenciar duas vezes desde janeiro até hoje, afinal o evento acontece por volta das 18h30. Essa rotina é esperada pros expatriados, mas querendo ou não, isso acaba deixando muito pouco tempo pra fazer qualquer outra coisa.

Conakry também sufoca no sentido que algumas coisas básicas que fazemos no Brasil não são feitas com facilidade aqui. Andar a pé nas ruas, por exemplo. Um branco sempre se destaca na multidão,e pode atrair olhares de interesseiros, charlatões e cia, alguns deles vestindo fardas. Então, ir num mercado ou simplesmente ir a restaurante a pé, enfim, andar por qualquer motivo é sempre um pouco tenso. Essa falta de liberdade talvez seja o que mais me incomoda.

Ainda falando em coisas normais que não se fazem por aqui, tem a fotografia. Como eu já havia dito em outro post, tirar fotografia aqui é bastante inviável. Já ouvi casos de pessoas tendo suas câmeras tomadas por “autoridades”, pois tinham sacado fotos de algum monumento, ou simplesmente porque um branco com uma câmera na mão no meio da rua é o alvo perfeito pra quem quer extorquir. Como um filhote de zebra perdido no meio da savana africana lotada de leões. Isso é bastante frustrante pra quem gosta de fotografia, afinal cada esquina aqui é um banquete de imagens. E pelo jeito isso não vai mudar tão cedo.

Ao longo da semana, essas limitações podem levar a uma sobrecarga da paciência, ou da falta dela. Entretanto eu encontrei uma boa válvula de escape para o final de semana (leia-se domingo): as ilhas de Lôs. São algumas ilhas que ficam a uns 10 Km de distância desde o porto dos pescadores de Conakry. Passar pelo porto em si já é uma experiência. Existe uma multidão de pessoas, indo e vindo, com caixas de peixes, tijolos, sacos e etc. todos circulando em ordem caótica. A maioria dos peixes que se come em Conakry chegam por lá, e o fluxo de gente e mercadoria é enorme. Ao lado do ponto de desembarque fica também o mercado de peixes.

Para se chegar ao barco, entra-se num “píer” de cimento de mais ou menos 2 metros de largura que se estende por uns 50 metros em descida, até submergir na água .Este corredor de cimento fica abarrotado de gente, então é importante ficar atento e não cair nas águas imundas que circundam o lugar. Passada esta etapa, se pega uma canoa (“pirogue”), dessas bem primitivas.. O “procedimento padrão de segurança” da embarcação é tirar o excesso de água de dentro do barco uns 10 minutos antes de embarcar. Depois do “procedimento” completo partimos, e com mais ou menos uma hora de viagem chega-se a ilha de Roam, uma das que compõe o conjunto.

Local de embarque é o porto de pescadores de Conakry, com o mercado de peixes ao fundo.



... é barco que não acaba mais ...

Ao longo do percurso até a ilha existem várias embarcações antigas naufragadas, com a metade da carcaça enferrujada pra fora da água. Toda a rota parece um grande cemitério de navios, o que dá um toque de cenário de abandono que só a África tem.

  
Uma das muitas carcaças de navio abandonadas no caminho até a ilha.


Com umas 3 praias relativamente curtas e um pequeno vilarejo de pescadores a pequena ilha tem uma atmosfera própria.

Diferentemente de Conakry, as restrições são muito menores. Pode-se andar a pé sem preocupação, tirar fotografias além de curtir uma boa praia.

Apesar de já existirem uma certa quantidade de casas construídas, a ilha conserva, em sua maior parte, a paisagem natural., com baobás, coqueiros e outros tipos de vegetação fechada.Seguem algumas fotos:




 







Criançada ficou animada com a câmera


Lá também há uma escola de música enfiada no meio da mata, onde é ensinada a arte de alguns instrumentos musicais tipicamente africanos, como Kora, Djembê, entre outros. Os músicos que habitam a ilha freqüentemente saem à caça de um trocado e percorrem as praias tocando seus instrumentos e cantando. A música que fazem somada ao cenário é a combinação perfeita para fazer a ambiance local. A sensação de estar nesta ilha africana, com o a visão do mar, escutando essa música tipicamente local é algo quase transcendental. O trocado que os músicos conseguem é mais do que merecido.




Músicos tocando seus instrumentos típicos 



Além de tudo isso, se come muito bem também. O dono do barco que nos leva também é dono de uma casa na ilha, onde serve um verdadeiro banquete de frutos do mar como almoço: lagostim, peixes, salada de camarão e etc. Com direito também a vinho rosé e uma(s) cervejinha(s).

Enfim, pra quem passa a semana com restrições básicas de ir-e-vir, a ilha é um pequeno refúgio de liberdade do dia-a-dia de Conakry. Um belo achado. Esta é só a ilha de Roam, ainda existem as outras do conjunto de Ilhas de Lôs, e com certeza vou dar um jeito de conhecê-las ao longo do tempo.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Crise de Identidade


Antes de qualquer coisa, as razões do sumiço: o tempo anda contado por aqui. Muito trabalho, algumas cervejas e, portanto, pouco tempo sobrando pra escrever. Vide quanto tempo não escrevo nada. Mas tendo em vista o clamor popular por mais posts, resolvi voltar à ativa. Vou tentar escrever com mais frequência. 

Nos últimos dois meses já deu pra desbravar um pouco mais de Conakry e seus arredores. Alguns restaurantes novos, um ou dois lugares pra sair e uma ilha que fica à uma hora de barco de Conakry, chamada ilha de Lôs. Na verdade é um conjunto de ilhas com esse nome. Numa outra ocasião falo mais sobre elas. Também já tenho acesso a uma academia, que vai servir bem pra aliviar o “stress”.
Passada a breve (re)introdução, vamos ao que interessa. 

Bom, agora eu tenho uma “identificação” local, uma carta de séjour, mais ou menos como uma carteira de identidade para estrangeiros. Ela tem alguns detalhes interessantes, e pode ser “útil” numa ocasional e provável blitz policial. 

 Minha nova Identidade, "infalsificável"

Como é possível perceber, o tal documento tem um formato bastante inconveniente. Não cabe em nenhuma carteira e em nenhum bolso. Parece mais um daqueles crachás de eventos, que as pessoas usam penduradas ao pescoço. Talvez seja essa a intenção do criador dessa identidade, mas a moda ainda não pegou, ainda não vi nenhum estrangeiro usando essa identidade pendurada. Além de que não seria muito elegante, eu diria. De toda forma, isso não necessário, pois diferenciar um local de alguém de fora não é nada difícil por aqui. 

Outra característica curiosa do documento é que ele tão facilmente falsificável (não tem marca d’água, nem selo e etc.) que chego a pensar se o meu mesmo já não é uma cópia. Talvez o original tenha ficado com alguém do Ministério da Segurança como souvenir. Um MsWord, uma impressora colorida e meia hora são os recursos suficientes pra fabricar essa identidade. Alguém quer uma?

Pra finalizar com chave de ouro, minha profissão e endereço estão errados. Concluindo, uma obra prima essa carta de séjour! (sendo justo, pelo menos acertaram meu nome inteiro!)

Bom, pelo menos é o documento provisório, quando chegar o definitivo farei um comparativo.

Até lá fico me decidindo qual versão da minha profissão e endereço eu acho mais legal (a verdadeira ou a do documento), pra explicar pra próxima “ôtoridade” que me pedir a identidade.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Contos de aeroporto.

Há alguns dias fiz minha primeira viagem de volta ao Brasil. Fiquei uns dias por lá, mas já estou de volta à Guiné. Pelo mesmo motivo fiquei sem publicar esses dias. Como ando trabalhando muito, e por isso não tive tempo algum de fazer turismo aqui, o que posso fazer é contar dos meus “quase-turismos”. Ando voando bastante, e o tempo em terra se resume a trabalho e cama, pelo menos por enquanto. Como não pretendo falar de trabalho aqui, conto os causos aéreos.

Neste bate-e-volta pro Brasil, algumas anedotas. Fiz duas escalas que são ironicamente sofríveis. Indo pro Brasil, pousei em Fernando de Noronha. E voltando pra Guiné, fiz escala em Paris. Tudo maravilhoso, não fosse o detalhe que só pude ver esses dois lugares da janelinha. Pousar em Fernando de Noronha, ficar trancado uma hora dentro do avião, sem poder descer, vendo gente chegar de bermudinha, biquíni e pranchas de surf é de doer o coração. Acontece que o voo sai de Conakry, pousa em Noronha para reabastecimento e depois segue viagem. Como não há Polícia Federal lá, fica proibido descer do avião, por se tratar de um voo internacional. Segue foto da janelinha do avião em Noronha, um lugar que fiz um “quase-turismo”:

Fiquei vendo essa cena 1 hora dentro do avião. É sacanagem!



Na volta, dessa vez, passei por Paris. Torci bastante pro vulcão islandês de 15 consoantes estourar denovo e eu ser “obrigado” a ficar em Paris uns 10 dias. Mas nada de vulcão estourar, nem de neve fechar o aeroporto. Final das contas não fiquei nem 30 minutos em Paris. Outra de partir o coração. Cheguei a sentir o geladinho de 7C que estava fazendo na França, mas ficou por isso. Direto pra Guiné!

Ainda na volta pro Brasil, dois fatos curiosos:

Primeiro que nosso avião atrasou umas 3h para sair de Conakry, pois um avião que pousou antes esqueceu de descer o trem de pouso e acabou fazendo uma aterrisagem pouco ortodoxa: de peito mesmo. Então, até que chegasse o guindaste, o caminhão e fizessem uma inspeção na pista pra ver se não tinha ficado nada pra trás, o voo atrasou. Seguem fotos com o tal avião sendo rebocado sem as rodinhas.

Reparem que as rodas são do caminhão e não do avião!

Última escala de todas


Reparem na qualidade do caminhão de socorro do aeroporto. Quase que não aguenta. Além do caminhão, durante essa confusão, muitos “agentes” do aeroporto passavam pra cima e pra baixo na pista de pouso com seus carros “ajudando” na solução de problemas. Alguns bebiam uma cerveja longneck e outros andavam com o carro de porta aberta. Enquanto isso um piloto trafegava pra cima e pra baixo com sua lambretinha para averiguar a situação. Um verdadeiro show de organização. Depois de um tempo, o guindaste chegou, colocou o avião no caminhão que o levou até um canto do aeroporto. Provavelmente o último destino de sua existência. Do caminhão, não do avião! 

Durante todo esse tempo de espera, pude aproveitar as maravilhas do Free Shop de Conakry:

Free Shop do aeroporto de Conakry. Especialidades: Springles, Coca-Cola e Papel Higiênico. Um verdadeiro deleite pra quem gosta de compras.


E mais anedotas por vir... ( o caso do guarda-gorila e mais! Não percam!)


domingo, 16 de janeiro de 2011

O apartamento de Conakry e os morcegos


Depois de duas trocas de hotéis em duas semanas, estou finalmente instalado no apartamento no qual vou ficar definitivamente... pelo menos essa é a ideia.

O bairro é o melhor de Conakry, perto das embaixadas, onde se encontram os melhores prédios. Por mais pobre que seja o país, sempre tem uma turma endinheirada. 

O apartamento é de alto padrão, sala ampla, vista pro mar, três suítes, cozinha ampla e varanda. Nada pra reclamar. O melhor de tudo é que eu pago R$ 0,00 , todas as despesas são da empresa.
Algumas fotos do apartamento:


a sala com a varanda no fundo


a cozinha



o banheiro do quarto


o quarto


Apesar de ser um apartamento de alto padrão, existem alguns detalhes no acabamento e no projeto do prédio que são bizarros. No meu banheiro há uma janela que dá pro nada, ou melhor dá para uma parede de concreto com um cano passando de cima a baixo. Além disso a janela das escadas do prédio também dão pra uma parede de concreto a 10 cm de distância. Pra completar o lavabo da sala também tem uma dessas janelas para o cimento. Na cozinha o acabamento do armário deixou um” leve” espaço entre as portas. Coisas que no Brasil não seriam aceitas pra apartamentos de classe A. Mas no final das contas isso são frescuras que não me afetam em nada, e como diz o velho ditado ”cavalo dado não se olhas os dentes”. Só achei pertinente remarcar como o nível de exigência para as coisas de qualidade daqui é mais baixo.  De toda forma não posso reclamar de forma alguma. Seguem fotos:

O acamento do armário da cozinha. Um espacinho pra ventilação. 


janela para o cimento no. 1, nas escadas do prédio

janela para o cimento no. 2, no lavabo da sala


janela para o cimento no. 3, no meu banheiro (com um cano que me deixa informado sobre os hábitos dos vizinhos de cima)


 
Conakry tem uma espessa camada de vapor que está instalada na cidade desde que cheguei. Isso impede de aproveitar a vista pro mar, que não dá pra ver mais que 100m de mar adentro. Acho que é coisa da estação. Lá pra setembro começa a época das chuvas, e espero que elas deem uma limpada na vista. 

a morcegada...

Todos os dias, lá pelas 18h, passa em frente à varanda um gigantesco bando de morcegos, ou uma morcegada, muito grande. São milhões. Parece que estão migrando pra algum lugar para iniciarem suas atividades noturnas. Ficam passando milhões deles por mais de uma hora, bem em frente à varanda do apartamento. Filmei o fenômeno, espero que dê pra ver direito. Sugiro ver o vídeo  em tela inteira e sem som, pois há muito ruído (do ar condicionado da varanda, não dos morcegos).



Ainda não deu pra desbravar a cidade neste domingo, a semana foi intensa e queria descansar. Além disso não há transporte público em Conakry, por isso qualquer passeio exige um nível de energia maior do que eu tinha hoje. Mas muitos finais de semana estão por vir, não há pressa.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Alguns milhões na gaveta

Aqui na Guiné a moeda se chama Franco Guineense. Criada em 1960, dois anos após a independência do país em relação à França, permanece a mesma. Acontece que dos últimos 50 anos pra cá, a inflação não poupou o país. De forma que 1 Franco Guineense hoje vale cerca de R$ 0,00022. Isso quer dizer que 1.000 Francos Guineenses valem cerca de R$ 0,22. Isso mesmo, mil Francos Guineenses é igual a vinte e dois centavos de real. A maior nota do país é a de 10.000 Francos Guineenses, ou seja, é como se a maior nota do Brasil fosse a de R2,00. Isso rende algumas situações inusitadas. Depois de ir a um restaurante por aqui e pagar 100.000 por uma conta, é bom  que se pague com uns 10 minutos de antecedência se estiver com pressa, pois a garçonete vai gastar no mínimo esse tempo para contar o pacote de notas que acaba de receber.

Por aqui, pra ir num restaurante é preciso levar um pacote de dinheiro. Cartão de crédito é sinônimo de piada ou fantasia lunática. Existe um só caixa eletrônico do país inteiro, mas ninguém tem certeza se funciona. Por isso, os pagamentos dessas coisas é sempre em espécie, "cash". De forma tal que é normal carregar um pacote ou envelope embaixo do braço com alguns milhões em dinheiro. Ninguém liga, é normal por aqui. 

Segue uma foto de 85 milhões de francos guineenses (uns R$ 15 mil). Uma pilha de dinheiro que se fosse no Brasil estaria em um carro forte:

 
Um montinho de 85 milhões




 As maiores notas da Guiné: 10.000 Francos, 5.000 Francos e 1.000 Francos... o equivalente a R$ 2,00 , R$ 1,00 e R$ 0,20 respectivamente.


Cortar uns zerinhos seria conveniente por aqui. Alguma remota lembrança dos planos cruzeiros/cruzados? A Guiné parece me levar a alguns anos atrás no Brasil, época da inflação, da falta de combustível e da desordem característica dos anos caóticos pós-ditadura militar. Exatamente como os tempos pós-militares daqui que começaram há 20 dias. 

Assim como no Brasil, aqui também não foi preciso uma revolução violenta e armada para a tomada de poder sobre os ditadores... O tempo mostrou simplesmente que, militares são treinados pra guerra, não para gestão pública/financeira. Eles simplesmente perderam a moral por aqui. de tanta lambança que fizeram. Como aconteceu no Brasil. 

A Guiné é uma de uma maneira ou de outra uma viagem ao tempo para um brasileiro como eu, que enxerga esse país como um filme 8mm de uma época do Brasil que ficou pra trás, mas que eu ainda consigo me lembrar.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Mais um pouco de Conakry

Já faz quase uma semana desde que cheguei à Guiné.  Já mudei de hotel e amanhã estou de mudança de novo, para o meu apartamento definitivo. Ainda não tem internet, mas deve ser instalada já na semana que vem. Porém isso é África e planejamentos nunca são confiáveis. Portanto, não sei quando poderei postar de novo, no máximo dentro de uma semana, espero. Já deu pra perceber que manter o blog vai ser uma das maneiras de manter a sanidade por aqui. 

Durante essa semana eu basicamente fiz só uma coisa: trabalhar. Dei algumas caminhadas para o restaurante onde costumo almoçar, e basicamente foi isso. Mas de toda forma já deu pra absorver algumas coisas. Aqui em Conakry se faz muito calor e o caminho para o restaurante, que faço a pé, que são no máximo 500m vira uma verdadeira via sacra. Fora o calor, a cidade é muito movimentada, as calçadas são tomadas por barraquinhas e pessoas, por isso é preciso andar no meio da rua. Há ambulantes, mendigos, bêbados, policiais que te batem continência, motoristas que andam com a buzina pressionada, pedintes, moradores de rua, lojas de sofás a céu aberto no meio da rua (sim, desse jeito) e otras cositas más. Isso tudo transforma essa caminhada numa experiência sudorípara e faz parecer que andei 10 km. Conakry é intensa. 

Quanto ao trabalho, é assunto extenso e prefiro não tratar dele no blog, mas algumas coisas interessantes vão surgir. Um dos projetos que vou ver de perto neste emprego é a construção (na verdade reconstrução) de uma ferrovia que atravessa o país, e tem seu km 0 no olho do furacão de Conakry. Os antigos trilhos cortam a cidade ao meio, porém o detalhe é que toda a extensão da ferrovia desativada está tomada por feiras, casas, pessoas, abrigos, campos de futebol e etc. Vai ser no mínimo interessante acompanhar esse processo de reforma da ferrovia, que aos meus olhos, parece uma missão completamente impossível. Só o tempo dirá.

Voltando ao cotidiano, pude observar que por aqui há muitos libaneses. Eles dominam todos os tipos de comércio da cidade: hotéis, vendas de móveis, lojas de informática e etc. É possível ver muitos deles por aqui, e geralmente pertencem à classe mais abastada da cidade. Isso foi uma surpresa pra mim, que pensava que ninguém ainda tinha se aventurado de fato num país tão instável aos negócios. Estava errado. 

Ainda há muita muita coisa pra se ver em Conakry, não vi nada ainda. Há mercados a visitar, lugares pra conhecer e histórias pra acontecerem. Conforme o trabalho for caminhando, o tempo livre esporádico aparecerá, e não perderei tempo pra desbravar um pouco. 

Já estou em outro hotel, mas envio algumas fotos tiradas da janela de onde estava antes. Amanhã me mudo para o apartamento, que também tem vista pro mar, o que pode me garantir algumas boas fotos, por enquanto que não posso fotografar as ruas. 

 Porto de Conakry


 Transporte de piroga até a Ilha de Los


 Barco de pescadores com vela remendada