terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Alguns milhões na gaveta

Aqui na Guiné a moeda se chama Franco Guineense. Criada em 1960, dois anos após a independência do país em relação à França, permanece a mesma. Acontece que dos últimos 50 anos pra cá, a inflação não poupou o país. De forma que 1 Franco Guineense hoje vale cerca de R$ 0,00022. Isso quer dizer que 1.000 Francos Guineenses valem cerca de R$ 0,22. Isso mesmo, mil Francos Guineenses é igual a vinte e dois centavos de real. A maior nota do país é a de 10.000 Francos Guineenses, ou seja, é como se a maior nota do Brasil fosse a de R2,00. Isso rende algumas situações inusitadas. Depois de ir a um restaurante por aqui e pagar 100.000 por uma conta, é bom  que se pague com uns 10 minutos de antecedência se estiver com pressa, pois a garçonete vai gastar no mínimo esse tempo para contar o pacote de notas que acaba de receber.

Por aqui, pra ir num restaurante é preciso levar um pacote de dinheiro. Cartão de crédito é sinônimo de piada ou fantasia lunática. Existe um só caixa eletrônico do país inteiro, mas ninguém tem certeza se funciona. Por isso, os pagamentos dessas coisas é sempre em espécie, "cash". De forma tal que é normal carregar um pacote ou envelope embaixo do braço com alguns milhões em dinheiro. Ninguém liga, é normal por aqui. 

Segue uma foto de 85 milhões de francos guineenses (uns R$ 15 mil). Uma pilha de dinheiro que se fosse no Brasil estaria em um carro forte:

 
Um montinho de 85 milhões




 As maiores notas da Guiné: 10.000 Francos, 5.000 Francos e 1.000 Francos... o equivalente a R$ 2,00 , R$ 1,00 e R$ 0,20 respectivamente.


Cortar uns zerinhos seria conveniente por aqui. Alguma remota lembrança dos planos cruzeiros/cruzados? A Guiné parece me levar a alguns anos atrás no Brasil, época da inflação, da falta de combustível e da desordem característica dos anos caóticos pós-ditadura militar. Exatamente como os tempos pós-militares daqui que começaram há 20 dias. 

Assim como no Brasil, aqui também não foi preciso uma revolução violenta e armada para a tomada de poder sobre os ditadores... O tempo mostrou simplesmente que, militares são treinados pra guerra, não para gestão pública/financeira. Eles simplesmente perderam a moral por aqui. de tanta lambança que fizeram. Como aconteceu no Brasil. 

A Guiné é uma de uma maneira ou de outra uma viagem ao tempo para um brasileiro como eu, que enxerga esse país como um filme 8mm de uma época do Brasil que ficou pra trás, mas que eu ainda consigo me lembrar.

4 comentários:

  1. Por aqui temos uma praga chamada "sequestro relâmpago", penso que isso não tem aí né? kkk
    É tensa essa história de sair pelas ruas com um monte de dinheiro hein? Grande abraço!

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  2. Umas das vantagens de uma moeda desvalorizada como essa é que se um trombadinha te rouba não faz nem diferença, o que cabe no bolso não vale nada!
    Abraços!

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  3. Muito forte essa desvalorização!! Mas o problema é se você vai comprar algo de alto valor, então os trombadinhas devem ficar na espreita, esperando um momento de distração, não?

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  4. Não é oportuno comparar os militares brasileiros com os de Guiné, uma vez que os primeiros investiram no país, construíram indústrias, rodovias, enfim, fizeram da 64ª economia do mundo a 8ª em 20 anos, o que nenhum general africano esteve perto de conseguir.

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