Acordo às 7 da manhã do dia 19 de julho com meu celular tocando. É um colega de tarbalho guineense:
“Fábio, estou ligando pra avsisar que não vamos trabalhar hoje. Há militares pra todo lado, aparentemente tentaram matar o presidente...”
Passou-se uns 5 minutos até que o susto dessa ligação combinado com o estado de semi-cosnciência cessassem um pouco para que eu de fato voltasse a realidade. Comecei a ligar pra todos que moram no mesmo prédio que eu e pra turma que trabalha comigo, recolhendo e repassando informações.
A informação recebida no meu telefonema se confirmava. Ninguém foi trabalhar. Estávamos todos reunidos no mesmo apartamento reunindo informações por telefone, rádio e internet. Fato: entre 2 e 5h da manhã 6 veículos do exército cheios de soldados tentaram invadir a residência pessoal do presidente, usando metralhadoras e lança-foguetes. Não conseguiram cumprir o objetivo, mas deixaram um belo estrago na casa, carros explidodos, muros destruídos, e um soldado morto.
Às 11h da manhã uma segunda tentativa de assassinato. No meio da confusão dos soldados que protegiam o presidente, um deles tenta atirar no mesmo, sendo preso em seguida.
O clima ficou tenso, a rua cheia de militares. Muita especulação. O presidente vai finalmente ao rádio e anuncia que está bem e vivo.
No dia seguinte fomos ao trababalho, mas não sem notar a imensa presença de militares nas ruas e um engarrafamento recorde.
Desde então, os chefes da tentativa de assassinato (alguns generais do exército, inclusive um ex-cehfe do Estado Maior) foram presos e os militares ainda não deixaram de marcar presença nas ruas. Principalmente à noite ainda há muitas blitz/checkpoints, onde pedem documentação do veículo, passaporte e às vezes um trocado.
É incrível como que por aqui uma ação desse tipo ainda é cogitada como maneira autêntica de tomada de poder. Sabendo um pouco mais da história da Guiné, não é dificil entender porquê. Desde sua independência da França em 1958, a Guiné sofreu uma série de golpes de estado, e quase todos, de uma forma de outro, funcionaram como forma legítima de troca de poder.
Um fato como esse é um tapa na cara pra relembrar onde estamos. Depois de alguns meses morando aqui, acabamos por negligenciar um pouco o contexto político do país. Nada como uma tentativa de golpe para nos refrescar a memória.
http://www.rfi.fr/afrique/20110803-guinee-debut-instruction-attaque-residence-alpha-conde